A taxa Selic é um dos principais indicadores econômicos do Brasil, mas não reflete diretamente o custo final do crédito para empresas e consumidores. Recentemente, Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central, destacou a importância de observar não apenas a Selic, mas também o juro real e o spread bancário.
Vejamos agora o que é o juro real, por que ele é significativamente maior que a Selic e como o spread bancário afeta diretamente a economia e o acesso ao crédito no Brasil.
O Que é Juro Real e Por Que Ele Importa?
O juro real é a taxa de juros ajustada pela inflação. Ou seja, ele indica o quanto um investidor realmente ganha ou o quanto um tomador de crédito efetivamente paga, desconsiderando os efeitos inflacionários.
A fórmula do juro real é:
Se a taxa Selic está em 10% ao ano e a inflação é de 5%, o juro real é de aproximadamente 4,76%. Esse é o percentual real que os agentes econômicos devem considerar ao tomar decisões financeiras.
Por Que o Juro Real é Maior Que a Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia, usada pelo Banco Central para controlar a inflação e influenciar o crédito. No entanto, a Selic sozinha não define os custos do crédito bancário. O custo efetivo do dinheiro também é impactado por outros fatores, como:
- Inflação: Quando a inflação está alta, mesmo com uma Selic baixa, o juro real pode ser elevado.
- Spread Bancário: Diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos captados e o que cobram ao emprestá-los.
- Risco de Inadimplência: Quanto maior a percepção de risco, maior o juro cobrado pelo banco.
- Tributação e Custo Operacional: Impostos e custos administrativos também elevam os juros.
O Papel do Spread Bancário no Custo Final do Crédito
O spread bancário é um dos grandes responsáveis pelos juros elevados no Brasil. Ele representa a diferença entre a taxa que os bancos pagam ao captar dinheiro e a taxa que cobram dos clientes.
No Brasil, o spread bancário é historicamente alto devido a fatores como:
- Alta inadimplência: Bancos precificam o risco de calote cobrando juros mais altos.
- Baixa concorrência: O mercado bancário é concentrado, com poucas instituições dominando o setor.
- Custo regulatório e burocracia: O sistema financeiro brasileiro é altamente regulamentado, o que gera custos adicionais para os bancos.
Para ilustrar, enquanto a Selic pode estar em 12% ao ano, um empréstimo pessoal pode ter juros superiores a 100% ao ano devido ao spread e outros fatores de risco embutidos.
Impacto do Juro Real Alto na Economia
Quando o juro real é alto, ele impacta diretamente a economia de diversas formas:
- Menor consumo: Juros elevados desestimulam o consumo parcelado.
- Redução nos investimentos: Empresas evitam tomar crédito para expandir os negócios.
- Endividamento elevado: Com financiamentos mais caros, muitas famílias e empresas ficam endividadas.
Por outro lado, um juro real positivo também pode ser benéfico para quem investe em renda fixa, tornando títulos públicos mais atrativos.
Como Reduzir o Custo do Crédito?
Para reduzir o custo do crédito no Brasil, algumas medidas podem ser adotadas:
- Aumento da concorrência bancária: Mais bancos e fintechs podem ajudar a reduzir spreads.
- Melhoria no ambiente de crédito: Reduzir a inadimplência com mais educação financeira e melhores garantias.
- Simplificação tributária: Redução de impostos sobre operações financeiras.
- Maior transparência: Tornar mais claro para consumidores e empresas o real custo dos empréstimos.
Conclusão
Embora a Selic seja uma referência importante, o juro real e o spread bancário são os verdadeiros fatores que determinam o custo do crédito no Brasil. Como destacou Galípolo, é essencial olhar além da Selic para entender o impacto dos juros sobre a economia. Para melhorar o acesso ao crédito e fomentar o crescimento econômico, é fundamental adotar medidas que reduzam o spread bancário e tornem o sistema financeiro mais eficiente e competitivo.